Em julho de 2014 eu e a Elo tínhamos 12 dias de férias, muito pouco dinheiro e um carro quase zero km, doido para rodar. A cotação do peso argentino estava ridícula (muito favorável), era frio, estávamos nos apaixonando pelo universo dos vinhos, adorávamos montanhas, queríamos muito conhecer a neve e estávamos sedentos por uma pequena aventura, ou seja, tudo nos levava a Mendoza e Santiago. Tivemos alguns dias para para planejar a viagem, e lá fomos nós!
Como queríamos aproveitar para visitar os primos que moram em Encarnación, no Paraguai, nosso roteiro ficou assim:
- Dia 1: Viagem de Foz do Iguaçu a Encarnación, via Posadas
- Dia 2: Dia livre em Encarnación
- Dia 3: Viagem de Encarnación a Villa Maria
- Dia 4: Viagem de Villa Maria a Mendoza + Fim de tarde em Mendoza
- Dia 5: Passeios em algumas vinícolas de Mendoza
- Dia 6: Viagem de Mendoza a Santiago + Fim de tarde em Santiago
- Dia 7: Curso de esqui em Valle Nevado
- Dia 8: Viagem de Santiago a Valparaiso
- Dia 9: Viagem de Valparaiso a Mendoza, passando por Viña del mar
- Dia 10: Viagem de Mendoza a Santa fé
- Dia 11: Viagem de Santa fé a Encarnación
- Dia 12: Viagem de Encarnación a Foz do Iguaçu
Aproveite o caminho. Ele é a verdadeira viagem!
Rodrigo Chibiaqui
Como vocês podem perceber, passamos mais tempo viajando do que parado, e este é o barato dessa viagem. As paisagem são lindas e mudam muito de uma região para outra. Se puderem alternar a direção, a viagem não fica nada cansativa e as imagens que vão ficar guardadas na sua memória são indescritíveis e impossíveis de retratar.
Apesar de parecer (e ser) bem tranquila, esta é uma viagem internacional, de carro, passando por 4 países e por ambientes bem hostis. Então fizemos um checklist de coisas essenciais para ter em conta antes de sair de casa:
- Carteira de motorista
- RG ou passaporte
- Seguro carta-verde
- Autorização para dirigir veículo de terceiro (se for o caso)
- Segundo triângulo (obrigatório no Paraguai e na Argentina)
- Kit de primeiros socorros (obrigatório na Argentina
- Chip de celular argentino
- Corrente para pneus (obrigatório para atravessar a cordilheira)
A maioria das coisas providenciamos no Brasil. O RG ou passaporte são itens obrigatórios. Todos que moram em Foz do Iguaçu sabem que para ir a Puerto Iguazu basta a carteira de motorista, mas para atravessar o país e sair lá no Chile, você vai precisar do RG ou passaporte.
O seguro do nosso carro é internacional já envia a carta-verde junto com a apólice, mas convém sempre verificar, pois isso não é regra (apólice de seguro internacional e seguro carta-verde são coisas diferentes). A Autorização para dirigir fizemos no cartório de Foz do Iguaçu, e o segundo triângulo compramos por aqui também.
O kit de primeiro socorros, compramos em um posto de combustíveis em Puerto Iguazu, primeira cidade da Argentina, já o chip de celular argentino, pegamos emprestado de um amigo que havia chegado recentemente de viagem e só colocamos créditos, mas se esse não for seu caso, convém comprar em Puerto Iguazu também, para já sair usando na viagem.
Por fim, a corrente para pneus, que é necessário portar para poder atravessar a cordilheira de carro, deixamos para comprar em Mendoza. Como isso é mais habitual por lá, acabamos encontrando facilmente em uma auto-peças. Há a opção de alugar, mas acaba saindo o mesmo preço e você acaba tendo uma preocupação a mais: ir devolvê-la na volta, então optamos por comprar (e temos até hoje, caso queira emprestado).
Posadas e Encarnación (ou Corrientes?)
Se você não tiver ninguém para visitar em Encarnación, o que é muito provável, considere parar para conhecer as ruínas jesuíticas de San Ignácio Mini e durma em Posadas, para fazer uma viagem bem tranquila no primeiro dia (300 km aprox.).
Se tiver fôlego, pode fazer mais 300km e esticar até Corrientes, deixando a viagem do segundo dia mais suave. Tanto Posadas quanto Corrientes são cidades médias e têm muitas opções de restaurante e hotel.
Atravessando um túnel por baixo do Rio Paraná
Você leu lá em cima que a viagem dessa viagem é o caminho, né? Há um tempo eu tinha ouvido dizer que havia um túnel sub-aquático atravessando o Rio Paraná (o rio da Itaipu, um dos mais caudalosos do mundo!), especificamente entre a cidade de Paraná e Santa Fé, na Argentina.
Prometi pra mim mesmo que iria conhecer este lugar e eis aqui a oportunidade! No caminho entre Posadas (ou Corrientes) e Villa maria, você pode passar por este túnel. Não dá pra ver nada, pois é um túnel como qualquer outro, mas a sensação de atravessar por baixo do Rio Paraná é muito legal!
Villa Maria
Villa Maria pode ser considerada uma agradável surpresa ou um errinho bobo. Como era baixa temporada e não sabíamos direito como tudo ia ocorrer (podíamos furar um pneu, pegar uma estrada fechada, etc), viajamos sem fazer reserva em hotéis e a partir do meio da tarde, quem estava de carona pegava o celular e começava a caçar ofertas de hotel nas cidades próximas.
Nossa ideia inicial era ficar em Córdova ou Rosário (não lembro), mas chegando perto, achamos que tínhamos fôlego para avançar um pouco mais adiante e achamos uma promo no Hotel Amerian em Villa Maria, quase no caminho (talvez tenha adicionado uns 50km a mais no trajeto).
Pelo pouco que pudemos perceber, a cidade é meio que um destino de feriado das cidades maiores do entorno, com uma carinha de destino relax e o hotel era bem bonito e completo, mas como chegamos super tarde e saímos super cedo, não aproveitamos muito a estrutura do hotel (spa, piscina, etc).
Se fosse hoje, acho que ficaria hospedado em Córdova mesmo, num hotel mais simples, e pouparia esses 50km a mais, até porque a estrada este trecho estava horrível pra transitar a noite, cheia de buracos, deserta e sem sinalização. Passamos bastante medo e acho que não compensou.
Passeios em Mendoza
Como chegamos relativamente cedo em Mendoza, aproveitamos para conhecer a cidade e fazer um City Tour. Paramos no aquário municipal, que é muito bonito, e achamos um cantinho para jantar. No outro dia, havíamos programado os passeios nas vinícolas. Apesar de gostarmos de fazer tudo sozinhos, como estávamos com pouco tempo para programar a viagem, utilizamos os serviços da agência Nossa Mendoza, que reservou tudo nas vinícolas e providenciou o transporte, pois como faríamos 3 degustações seria muito imprudente dirigir depois. O pacote foi construído com o auxílio dos atendentes da agência, e atendendo aos nossos anseios, nos montaram um roteiro com três vinícolas:
- Chandon, pois amo espumante;
- Catena Zapata, porque já conhecíamos e gostávamos da marca; e
- Cobos, dica da dinda da Elo, que ama o vinho “Bramare”, dessa vinícola.
Nosso dia de degustação começou na Chandon, onde optamos por almoçar (menu degustação com harmonização de espumantes). Estava bem gostoso e, independente de ser na Chandon ou em outra vinícola, achamos essa história de almoçar na vinícola bastante prático, pra não ter que procurar lugar para comer entre uma vinícola e outra.
A segunda degustação foi na Catena Zapata, que é linda e onde demoramos mais do que o devido (por mim, estaria lá até hoje, haha), pois o guia era super simpático e o grupo estava super interessado. Mas aí vem o problema! Com essa demora, acabamos chegando atrasados na terceira vinícola e perdemos o passeio 🙁 O pessoal foi super legal conosco e serviu um vinho enquanto esperávamos, mas tivemos que voltar pra casa sem fazer a visita.
Apesar de ter gostado muito do serviço e do auxílio nas reservas, hoje em dia eu visitaria apenas 2 vinícolas, para ser mais tranquilo, e pesquisaria se tem Uber por lá atualmente (na época não existia), pra não ter tanto a pressão do tempo.
Atravessando a Cordilheira dos Andes de carro
Este é um trajeto de pouco mais de 300 km que vale por toda a viagem. Jamais pense em visitar Santiago ou Mendoza e não fazer essa travessia. Se for a qualquer um dos dois lugares de avião, alugue um carro, pegue uma van, um táxi, uma moto, qualquer coisa, mas atravesse a cordilheira!!
Saindo de Mendoza você já começa a sentir a vibe da pré-cordilheira, e no caminho você tem dois pontos de parada muito legais: o primeiro é a Puente del Inca, que é uma ponte natural de rocha, com cores incríveis, e que mesmo achando sem graça vale a parada, pois está na beira da estrada. A gente deixou para parar na Puente del Inca na volta, para não correr o risco de atrasar demais.
O segundo é só a maior montanha das Américas: o Aconcágua! Não dá pra chegar nela sem escalar (aí é outra viagem), mas caminhando aproximadamente 1km parque provincial adentro, dá pra avistá-la. Este é um lugar que vale muito o check-in. De quebra, caso você não conheça neve, este certamente vai ser seu primeiro contato com ela. Vista suas botas e prepare-se para congelar os pés e encantar os olhos! Por sinal, use óculos de sol, pois a luz do sol refletida na neve é forte pra caramba!
De volta à estrada, você passará pelas aduanas integradas da Argentina e do Chile, terá que dar saída num país e entrada no outro. Tudo é bem sinalizado. Vão revistar seu carro, conferir seus documentos e, se tudo estiver certo, você vai seguir viagem. Aqui costuma demorar um pouco. Quando fomos, pegamos umas 2 horas de fila. Esta parte é um saco, mas passa!
De volta à estrada, volume 2: entre túneis, montanhas e estações de esqui, você logo chegará à famosa estrada “Los Caracoles”. A vista que se tem dela é simplesmente espetacular. A cada curva que a gente faz, parece que as montanhas ao nosso redor vão nos engolir. Tentamos tirar 1.000 fotos e vídeos, mas nenhum retratou 1% do que é a experiência ao vivo. Ao final, você volta à uma estrada em pré-cordilheira, fantástica, a caminho de Santiago.
Dica importante: Não esqueça das correntes. É obrigatório portá-las! A parte boa é que dificilmente irá utilizá-las nesta estrada, pois quando há muita neve na pista, eles fecham a estrada. Por isso, vale acompanhar o twitter do Paso Los Libertadores, que informa em tempo real a situação da estrada, além de dar previsões mais realistas de como estará a estrada nos próximos dias.
Esquiando em Santiago – Valle Nevado
Depois de uma noite tranquila na cidade, fomos para o hotel dormir um puoco, pois no outro dia cedo teríamos nosso tão sonhado “Ski day em Valle Nevado”. Contratamos o serviço de transfer + ingressos + aluguel de roupas e equipamentos com a empresa Ski Total. Valeu a pena ir com uma agência/empresa? Não sei, pois achei que tudo demorou muito, mas se eu fosse novamente, acho que faria o mesmo esquema, pois me pareceu bastante arriscado ir sozinho, principalmente pela estrada, mil vezes pior do que os Caracoles: mais nevada, mais estreita, mais movimentada e frequentada por gente mais maluca e com mais pressa.
Saímos cedo do hotel com um transfer gratuito da Ski Total. Aqui eu acho que foi o primeiro erro. Talvez valha mais a pena ir de táxi, pra poder chegar mais cedo, pois na sede da empresa é onde você irá pegar os equipamentos e a van para ir à estação de esqui, e tudo é lotado e por ordem de chegada. Saímos do hotel umas 8h, mas entramos na van para ir para o Valle Nevado umas 10h, e fomos chegar lá muito perto do meio dia.
No pacote que escolhemos, optamos por fazer uma aula de esqui. Se você nunca esquiou, faça-se esse favor, e faça-o cedo. Sem uma aulinha básica, você mal consegue calçar os equipamentos. Chegamos no ponto de encontro da aula e depois de aproximadamente 1 hora já estávamos nos arriscando em descidas suaves. A cada descida, arriscávamos um pouco, e íamos avançando em pistas mais difíceis.
No final, a professora falou que se estivéssemos a vontade, não precisaríamos descer de teleférico, pois tinha uma pista (laranja, se não me engano), que era bem tranquila, para iniciantes. CUIDADO! Como nós havíamos esquiado o dia todo, estávamos nos sentindo profissionais, e descemos pela tal pista “fácil”. Só não morremos e nem quebramos uma perna porque não era o dia. De fácil a pista não tinha muita coisa, e as pessoas passavam por nós literalmente voando. Em vários momentos tentávamos freiar mas a inclinação era tanta que pouco adiantava. As quedas foram inevitáveis e bem arriscadas (Lembra do pessoal passando “voando”. Então!). Se você estiver muito confiante, desça pela pista “fácil”, vai ser muito assustador, mas compensa! Agora, se estiver com medo de ser muito pesado para um iniciante, acredite na sua intuição e vá de teleférico.
Valparaiso e Viña del mar
A melhor parte de ter contratado uma empresa para ir para o Valle Nevado é que o motorista da van também trabalhava fazendo a travessia da cordilheira. Conversando com ele, falamos que iríamos atravessar na segunda-feira de volta para Mendoza, e ele nos orientou: voltem domingo, pois segunda a estrada irá fechar. Argumentamos que o twitter da aduana não estava prevendo fechamento, mas ele foi incisivo: “Confiem em mim. Atravesso a cordilheira há muitos anos e posso garantir que segunda a estrada estará fechada”.
Como programado, pegamos a estrada e fomos para Valparaiso. A dica aqui é: CUIDADO COM O GPS! Apesar de eu ter atualizado os mapas poucos dias antes da viagem, o GPS do carro ficou muito perdido desde Santiago, talvez pela nebulosidade (poluição), mas em Valparaiso ele endoideceu de vez. Para chegar no hotel, ele me mandava pegar estradas que não existiam, mandava fazer contornos onde não havia, uma hora pediu para eu sair da pista e acessar uma estrada que, pasmem, ficava há uns 200 metros abaixo do nível onde estávamos (Valparaiso é bem montanhosa). Para fechar com chave de ouro, na saída de um museu, ele sugeriu que eu descesse uma estradinha super íngreme e sinuosa, de mão simples. Acontece que esta estrada era contra-mão para descer e, claro, no meio do caminho, começou a vir um monte de carro a mil por hora (pra vencer a subidona) e tinha um brasileiro descendo na contra-mão. Apesar de “escalar” a parede da montanha com o carro para dar passagem para o pessoal, minha mãe foi muito elogiada em espanhol, e eu passei muito mais medo do que na estradinha do Valle Nevado.
Depois disso decidimos duas coisas. 1) Não sairíamos mais de carro em Valparaíso. 2) Não iríamos arriscar pegar a estrada fechada, e anteciparíamos a nossa volta. Fomos jantar de táxi e voltamos a pé, pois o restaurante era pertinho do hotel (ficamos com um pouco de receito, pois a cidade é portuária e não pareceu muito segura, mas foi tudo bem), No outro dia, bem cedo, apenas “pingamos” em Viña del mar e fomos em direção à Argentina.
Foi a melhor escolha. Logo que passamos a aduana, aproveitamos para conhecer a Puente del Inca, e assim que chegamos em Mendoza ficamos sabendo que a estrada que recém havíamos passado tinha sido fechada devido ao mau tempo. Se tivéssemos esperado mais uma ou duas horas, teríamos que ficar no Chile mais uns 4 dias, ou fazer uma volta gigantesca para conseguirmos atravessar a cordilheira de volta. Santo motorista da van!
Noite extra em Mendonza
Como antecipamos a volta, teríamos um dia a mais em Mendoza. No último segundo, achamos uma promo no hotel Huentala, super estiloso, com menu de travesseiros e todos mimos do mundo. Foi uma noite de princesos.
A volta por Santa fé
No outro dia, depois de um café maravilhoso, rumamos para Santa fé, iniciando a jornada de volta para casa.
Em Santa fé, achamos um hotel muito gracinha, Puerto Amarras, que fica numa região onde era um porto antigo e está sendo totalmente urbanizada, com hotéis, shopping e restaurantes. Jantamos no shopping, que fica pertinho do hotel, e no outro dia saímos cedo em direção a Encarnación, para dar um último alô par aos primos, conforme prometido. Se você não tiver um primo querido em Encarnación, aproveite para curtir Posadas e descansar para o próximo dia.
Chegando em Posadas, quase desistimos de atravessar para Encarnación. A fila era de umas 4 horas, mas força na peruca! Decidimos atravessar mesmo assim, e levou “só” umas 2 horas e meia. Jantamos com os primos e no outro dia bem cedinho estávamos atravessando novamente a Posadas, agora sem fila, para fazermos os últimos 300 km até Foz do Iguaçu.
Fizemos esta viagem bem na Copa do Mundo, quando o Brasil perdeu de 7×1 para a Alemanha, que depois enfrentou e ganhou da Argentina na final. Conhecendo o clima hostil, ficamos com muito receito de botar um carro com placas brasileiras rodar na Argentina nesta época, mas ao contrário do que esperávamos, todos argentinos e paraguaios que cruzaram conosco foram muito simpáticos, brincalhões e solícitos.
A viagem foi uma delícia, mas chegar em casa depois de quase 6.000 km rodados, sem ter tomado nenhuma multa, sem ter sido extorquido por nenhum policial (tanto Argentina quanto Paraguai têm uma má fama imensa por cobrar propina nas estradas), sem ter passado por nada mais grave que alguns sustos, é muito gostoso e nos deixa com muita vontade de planejar a próxima!
Espero ter inspirado sua viagem à Mendoza e Santiago. E qualquer dúvida ou empréstimo de correntes para os pneus (aro 13), pode falar comigo 🙂
Adorei a viagem de vocês, seu relato foi bem claro. Gostaria de fazer essa viagem de Foz do Iguaçu a Mendoza de carro também, talvez uns 12 dias, mas gostaria de saber preços de hotéis ou pousadas, pra gente ter idéia de quanto vai gastar. Obrigada
Oi Marta! Obrigado pelo comentário. Acho que os preços da época que fomos já devem estar bem defasados, mas como viajamos na baixa temporada, reservamos tudo no boooking.com, que já mostra os preços para a data da sua viagem.